Quando uma amizade acaba


Durante muito tempo, eu discordei dessa frase do Millôr FernandesSempre achei que amizades que já haviam passado pela prova de sobreviver a uns bons anos de convivência eram inabaláveis e que, se entre os amigos existia um mínimo de cumplicidade, não haveria espaço para rompimentos definitivos. Por isso, toda vez que eu esbarrava com essa frase, resmungava mentalmente sobre o quanto Millôr estava errado.

Até que, do ano passado para cá, várias amizades que eu acreditava serem para a vida inteira foram simplesmente se acabando. Algumas eu sei exatamente porque terminaram e consigo enxergar minha parcela de "culpa" na história. Mas outras eu passei um bom tempo tentando encontrar um motivo para o fim e não o achei.

Estas últimas eu tentei salvar, quebrei o silêncio, tentei entender, mas foi inútil. Aliás, acho que foi pior do que se eu não tivesse feito nada. As pessoas não se mostraram abertas a falar sobre o assunto, apenas jogaram panos quentes, fingiram estar tudo bem e se distanciaram ainda mais.

Passei um bom tempo sentindo falta dessas amizades, tanto as que eu não entendi o fim quanto as que eu contribuí para isso, porque só opto por me distanciar de algum amigo quando esta parece ser a melhor atitude a se tomar. E, normalmente, continuo desejando o bem dessas pessoas e lembrando dos bons momentos. Só que esse hábito acaba se tornando um certo apego emocional ao passado.

E é aí que entra o maior desafio do fim das relações, de qualquer tipo: lembrar do que foi bom, não carregar mágoas e conseguir seguir em frente emocionalmente. De verdade! Não só por fora, não só virtualmente. Mas soltar a pessoa internamente, libertá-la, deixá-la ir! Porque se recusar a fazer isso é resistir ao fluxo natural da vida.

Acredito firmemente que nós mesmos criamos o mundo a nossa volta através dos nossos pensamentos e vibrações emocionais. E, além de ser verdadeira, essa crença é benéfica, pois nos tira da posição de vítima das circunstâncias. 

Mas, ao mesmo tempo, eu tenho a mania de usá-la para me culpar pelo comportamento das outras pessoas. Sempre acho que eu devo ter feito algo antes para que determinada pessoa agisse de tal forma comigo.

Claro que é bom refletir sobre nossos próprios atos e entender que todo relacionamento é uma via de mão dupla, inclusive no nível energético. Mas, no geral, as pessoas agem baseadas em seus próprios conteúdos internos. Sei por experiência própria que, poucas vezes, a coisa tem realmente a ver com quem está fora.

"Coração dos outros é terra que ninguém pisa"

Esse velho ditado vale pra cabeça também. Tentar decifrar a mente das pessoas é como entrar na casa de alguém que a gente não conhece, no escuro, e tentar não esbarrar em nada. É impossível.

Melhor mantermos o foco em nós mesmos. Não, isso não é egoísmo, é apenas a consciência de que somos a única companhia garantida que teremos na vida. 

Então, que sejamos nossos melhores amigos. Cuidemos mais do nosso mundo interno e sigamos em frente. De coração, de verdade.

Há sempre novos caminhos e novas amizades pela frente. Prestemos mais atenção em quem nos quer por perto (e demonstra isso) e caminha ao nosso lado. 

Deixemos ir, com amor, aqueles que fizeram outras escolhas e decidiram partir. Quando algo chega ao fim, só nos resta aceitar. Qualquer outra reação, interna ou externa, é bobagem.


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