Sobrevivendo a uma mãe narcisista

mae narcisista
Imagem: Rede Globo

Há 37 anos, eu sobrevivo à minha mãe narcisista. Demorei muito tempo para entender que o comportamento dela não era algo aleatório, que as ofensas não eram frutos de irritações momentâneas ou que o desprezo com que me tratava não era culpa minha.

Demorei mais tempo ainda para descobrir que existia um termo específico para designar este comportamento. Porém, o fato é que, descobrir que existem mães narcisistas e entender como funciona a lógica da cabeça delas começou a me libertar.

A vida inteira ela me manipulou sem que eu percebesse. Ela sempre usou os meus sentimentos, a minha afetividade contra mim mesma. Ela fazia eu me sentir um monstro, sendo que a falsa e egoísta da história era ela.

Uma hora está tudo bem, noutra ela dá um chilique por alguma coisa idiota e começa a despejar ofensas sobre mim. Se eu reclamo, a culpa é minha. Ela está apenas dizendo a verdade, eu é que sou melindrosa demais. Ninguém pode falar nada comigo que eu fico me doendo.

Inveja é um dos traços dominantes da mãe narcisista. Ela não pode me ver bem, me ver conquistando algo, me destacando. Ela diminui tudo o que eu faço.

Elogiar? Jamais! Não importa o quanto você estude, o quanto você trabalhe, se você ajuda em casa, quanto sucesso venha a ter. Você nunca será boa o suficiente. Você não presta para nada! Você não devia nem ter nascido. A única gravidez desejada foi a do seu irmão. Você foi um acidente. 

E é impressionante a calma e tranquilidade com que ela fere o mais profundo da sua alma sem se importar. Eu vou morrer sem entender o que move uma pessoa que põe um ser humano no mundo para passar a vida inteira diminuindo e maltratando ele.

Como eu já chorei pelas coisas que ela me fala... Eu me desmanchava em lágrimas... Me sentia o último dos seres humanos, a criatura mais desprezível. 

O meu estado emocional dependia do dela. Se estava tudo bem entre a gente, eu estava bem. Quando ela surtava do nada, o meu mundo desmoronava novamente. Sempre assim, uma montanha russa. Sempre uma instabilidade, uma ansiedade.

Morando na mesma casa, é muito difícil manter um distanciamento emocional. Ainda mais eu, que sempre fui muito emotiva.

Mas, de um ano para cá, isso mudou. Eu parei de enxergá-la só como minha mãe e passei a focar no comportamento, nas atitudes. E passei a sacar a malícia, a manipulação. E, enxergando com frieza, a gente não abraça as ofensas, não deixa nosso coração exposto para ser golpeado.

Eu entendi que não se trata de mim, é sobre ela. O problema não sou eu. 

Junto com isso, eu passei a focar em mim mesma. Passei a enxergar o quanto eu sou forte, batalhadora, inteligente, criativa... Pois, mesmo num ambiente assim, eu consigo criar, empreender, ser produtiva, ser alegre. 

E eu mereço ser feliz. 

Eu já conquistei tanta coisa... E a próxima será a casa própria, para eu ter o meu cantinho e viver em paz.

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